Ora menina, ora mulher.
Às vezes ora como menina
Às vezes como mulher.
Tem por volta de vinte anos e até hoje morre de vergonha dos pés. Dependendo do sapato calça trinta e nove, dependendo calça quarenta. Fica estressada quando não acha sapato pro seu pé. Por ela, só usaria tênis, sente-se envergonhada quando olham para o membro que a sustenta.
Mas Deus foi generoso com Clara. Deu a ela um corpo de quase um e oitenta no formato violão. Os músicos ficam atiçados para tocá-la e ouvir a melodia produzida. Os cachos do cabelo vão do ruivo ao dourado, fazendo qualquer manhoso querer ficar embaixo desses caracóis.
Suas pernas são admiradas por muitos. As coxas não são grossas, são compridas. Mas não são magras, são bonitas. Seus olhos também são assim: não são verdes, nem azuis, são pretos, negros, profundos. Quando quer, o olhar é sincero, quando precisa é irônico e quando gosta é sensual.
Deus foi generoso com Clara, mas foi também com a população. Ela nasceu delicada como uma rosa, provavelmente morrerá assim, é discreta como as borboletas são, ainda não é mãe, mas seu coração é igual ao de uma. Queria poder usar bigode. Faz um arquivo pessoal e sonha que um dia algumas das suas frases virem provérbios, alguns dos seus poemas sejam estudados, consiga escrever um livro e torce pra achar um doido para transformar seu apanhado de palavras em música.
Cheia de sonhos, metas, vontades, falta-lhe só a coragem. Espera um dia encontrar com ela, mas a quer na forma de uma pessoa. Um homem, de preferência. Pra que ele entre com a coragem na vontade.
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